S E M L I R I S M O
De: Henrique Musashi Ribeiro - Em, 8 de Março de 2000.
Noite e dia são-me quase iguais; um melhor que outro
Pois extenua-me por extasiar-me com tão pouco
Como um peralta, amarelo infante,
Que, na folga, das nuvens do céu faz elefantes.
Impotente e triste é o meu querer,
Pois gostaria verazmente de bem poder
Escolher extasiar-me com tudo
Ou então com nada, sem tarde me arrepender.
Triste vive o pasmo, que ambiciona o que vê
Tentar, como o diabo, abarcar o mundo com as pernas
E se jogar ladeira abaixo atrás do tudo que vê pela TV
E descobrir que nem feliz é aquele que tem o que
sonhava ter.
Lábios são-me secos agora
E a língua atrevida, não ferina, de outrora
Mas que agora branca e dura, o silenciar não demora,
Pois o seu lirismo pediu licença e foi-se embora.
Por tanto provar da solidão e não da candura
Coração se fechou dentro de grosseira armadura.
Coração que outrora fermentadamente gigante
Hoje apenas bate resumido em olhos errantes.